Tuesday, August 21, 2012

Fernando Ribeiro de Mello n´A Última Sessão



No livro A Última Sessão, de Pedro Marques, recentemente editado, retiramos alguns excertos sobre o editor Fernando Ribeiro de Mello:


 
...Fernando Ribeiro de Mello (nascido no Porto em 1941, e chegado a Lisboa no início da década de 60 para se impor como figura incontonável no círculo influente da poetisa Natália Correia) não perdera a compostura e refizera lentamente a sua imagem de sofisticado criador de eventos editoriais, com campanhas promocionais muito cuidadas. Exemplo disso foi a Antologia do Humor Português de 1969, o célebre "tijolo" laranja com a dentadura na capa (de Sena da Silva), em que até alguns elétricos de Lisboa exibiam painéis alusivos ao livro. Para Aníbal Fernandes, duas vezes antologiador na Afrodite (Antologia do Conto Abominável de 1969 e De Fora Para Dentro de 1973), e tradutor e antologiador reputado na Assírio e Alvim, entre outras, o modelo era claro: Ribeiro de Mello queria ver-se como o Jean Jaques Pauvert português. Como Pauvert (o editor da Histoire d´O de Pauline Réage, que escandalizara a Quarta República), também ele lançara Sade e erotismo contra um meio repressivo (e fora julgado por isso). Mas podemos ver também sombras de um Maurice Girodas (da Olympia Press de Paris, o editor de Lolita de Nabokov, e Naked Lunch de Burroughs), de um Eric Losfeld ou de um Barney Rosset (o editor americano que abatera os muros da censura com a publicação dos Trópicos de de Henry Miller na Grove Press) nessa incansável teimosia de juntar a (auto)promoção (que se colava naturalmente a uma postura de provocação dandy, reforçada por um retorcido bigode fin-de-siécle) à extrema qualidade e exigência na produção dos livros. O Ribeiro de Mello que a 15 de Dezembro de 1971 convidou todo o monde lisboeta para um lançamento em que ele, "de calções pretos", se encontrava sentado no centro da sua enorme banheira ("forrada a preceito pelo artista plástico João Vieira", tendo por perto "dois diabos ensonados" e "duas beldades", como não deixou de reportar Fernado Assis Pacheco no Diário de Lisboa), era o mesmo que encomendava ilustrações a Cruzeiro Seixas, Martim Avillez, António Areal, ou Eduardo Batarda, entre outros.

(...)

Quanto ao Ribeiro de Mello, à excepção de uma cuidada edição de Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente, de Natália Correia em 1981 (com colaboração gráfica de Paulo-Guilherme), o catálogo da Afrodite, depois de 1977, empalidece até ao final: quando morre, em 1992, quem se lembraria mais do editor corajoso e visionário dos tempos da censura, do "Pauvert português", do que do jurado ocasional da Cornélia e outros concursos da RTP dos anos 80?"

Friday, August 10, 2012

Nova edição de A Sociedade do Espectáculo




Saúda-se a Antígona, que acaba de lançar uma edição de A Sociedade do Espetáculo de Guy Debord. A edição da Afrodite estava esgotada há muito tempo. A tradução, de grande qualidade, é a mesma da Afrodite, lançada em 1972, da responsabilidade de Francisco Alves e Afonso Monteiro. Na altura teve o devido reconhecimento, até com elogios do próprio Guy Debord.
Esta não é a primeira vez que a Antígona faz uma edição a partir de uma publicação da Afrodite. Em 1999 a Antígona publicou a Antologia de Poesia Portuguesa Erótica de Satírica, de Natália Correia, que Fernando Ribeiro de Mello lançou em 1966.
Publicada em 1967, A Sociedade do Espectáculo é a obra filosófica e política mais famosa de Guy Debord e uma análise impiedosa da invasão de todos os aspectos do quotidiano pelo capitalismo moderno. O espectáculo, segundo o autor, «uma droga para escravos» que empobrece a verdadeira qualidade da vida, é apontado como uma imagem invertida da sociedade desejável, na qual as relações entre as mercadorias suplantaram os laços que unem as pessoas, conferindo-se a primazia à identificação passiva, em detrimento da genuína actividade. O autor afirma que «quanto mais [o espectador] aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende a sua própria existência e o seu próprio desejo».