Wednesday, August 13, 2008

A cinta promocional de Cara Lh Amas

Prefácio de Cara Lh Amas



Apresentamos a primeira parte do excelente prefácio à edição de CARA LH AMAS, escrito pelo próprio E. M. de Melo e Castro (na foto).


Prefácio

1. Sobre as transformações do título deste livro

Chamei-lhe CARA LHA AMAS quando por volta de 1964 reuni alguns poemas que em comum tinham um certo tratamento de uma certa linguagem. E assim foi referido na «Antologia da Poesia Erótica e Satírica», onde alguns desses poemas foram publicados. Para mais rigorosa informação do Leitor transcrevo a nota que então deveria abrir o livro em projecto e explicava o título.
«Se se chama ´Ideograma` ao sinal gráfico e visual de uma ideia, pode chamar-se ´cara lh amas` à grafia ou visualização que aqui se faz de um conhecido sujeito de que certamente todos, por variadas razões, lhe amam a cara.»
e então, no ambiente eroticamente obscuro e repressivo dessa «longínqua» data, o título tinha toda a justificação numa função de choque e de (re)descoberta das enormes potencialidades criativas de um vocabulário maldito
Também era o começo de uma euforia experimental que nas palavras encontrava sentidos e significados interiores insuspeitados pelo uso fúnebre e rotineiro que delas faziam certas pessoas. CARA LH AMAS era, portanto, o título justo a, pelo menos, dois níveis: o propriamente erótico e o linguístico experimental.
No entanto o livro (que ia crescendo organicamente) não podia obviamente ser publicado. Apenas ficou na mente de alguns amigos e especialistas e a existência de tal título e de tal projecto de publicação na Afrodite-Fernando Ribeiro de Mello, claro.
Mas quando esse projecto se pôde começar a concretizar receei que a força desmistificante de CARA LH AMAS tivesse diminuído precisamente nos 2 níveis que o justificavam: o erótico, por um actual maior à-vontade de comportamento e linguagem; o experimental, porque tais exercícios semânticos já haviam sido assimilados pelos leitores e são hoje parte da linguagem falada de muita gente.
Havia que procurar outro título. Foi então que de uma conversa com José Martins Garcia, sobre os «Anagramas de Eros» em Ricardo Reis me surgiu: «OS ERROS DE EROS». Título que me satisfez plenamente pela subtileza: da ambiguidade moralista de «erros» à clareza da invocação de «eros» medeia apenas o eliminar de uma consoante e a consequente alteração fónica ou, fonologicamente uma simples oposição.
Estava nisto quando surgiu Liberto Cruz que propõe: «OS ERROS DE CARA» título a todos os títulos mais complexo e mais rico em subtilezas ainda. È que «eros» está graficamente contido em «erros» e CARA é sem dúvida uma palavra plena de conotações mais diversas, desde ser a primeira parte de CARA LH AMAS, até aludir a uma frase popular, como por exemplo «é de caras». Por outro lado o ser «de» (proposição apenas) e não «do» aumenta a carga semântica total, por indeterminar ainda mais as conotações de cara. Assim, cheguei a um título que revelava uma maturidade emocional/linguístca, mas que era «pouco título».
A força original de «cara lh amas» voltou a impor-se durante uma conversa com Helder Macedo, já que tal título pode agora ter ainda um outra leitura que se ajusta optimamente ao tom geral do livro, ou seja, o de um humor/sarcasmo sobre a sua própria natureza.
Além disso uma história contada por Helder Macedo contribuiu decisivamente para o retorno ao título primitivo: «durante um ensaio num teatro de Lisboa, no meio de acalorada discussão, alguém gritou a plenos pulmões. «Em português todas as palavras querem dizer CARALHO».
Perante tal evidência linguística, que outro título poderia ser escolhido?
- Eis como um círculo de erudição se fecha sobre a realidade primeira e última de um amor que «é de caras»...

Thursday, August 07, 2008

Dois poemas gráficos de Cara Lh Amas







Cara Lh Amas, de E. M. de Melo e Castro

(edição de Abril de 1974)



Cara Lha Amas, poemas eróticos e sarcásticos 1964/1975

Capa e arranjo gráfico: Edições Afrodite
Arte final: Nuno Amorim
Edições e direitos: Edições Afrodite



Na badana

Enquanto o homem, comprimido no cidadão é corpo, não será esse homem nem homem nem cidadão.
Neste solo onde há séculos vigora a máquina censória, inquisitorial, sinistra, criou-se em cada cidadão, por dentro da epiderme, do tutano ou da alma, (para quem quiser ter um), um vigilante, um polícia, um informador, um inibido ser que a si se castra e aos outros tenta triturar, se pode.
Num país entre todos excelente, ganhou foros de excelência «a miséria sexual». E os mentores, os censores, os moralistas, os guardas da escuridão e do açaime, devotamente pregam abstinência para moldarem as normas da opressão.
Opressão sexual, repressão política. Como pode ser livre no pão e na palavra quem ao próprio corpo ignora, avilta ou menospreza?
A poesia erótica, essa que os sistemas pretendem sufocar, aponta para uma forma superior de liberdade. Incide na coragem de não mais reprimir a afirmação do corpo, inaugura o seu discurso com o ataque ao tabus. E fala do amor como se em cada verbo vivesse a integral partilha dos corpos.
A poesia erótica de E. M. de Melo e Castro canta a anti-renúncia, canta um compromisso livremente assumido. Situa-se para além da ordem, tanto na ordem repressiva, convencional, abstracta, despótica, como da ordem imposta à consumação sexual. (Donde, a incriminação do autor, por causa de textos, em Tribunal Plenário, no ano da graça de 1970). É a exaltação experimental, a negação do a priori que envenena as relações humanas, a transposição artística duma vivência pela sexualização dum acto de fala.
Por isso estes poemas são um apelo à coragem, uma concepção revolucionária do corpo, uma reivindicação de vida, contra o obscurantismo que nunca tolerou a liberdade dos corpos que se celebram, nem mesmo quando se reveste de paternalismo cultural.

Friday, August 01, 2008

O editor na banheira - fotografia


Fotografia retirada do blog Almocreve das Petas, de um post de setembro de 2006, onde se apresentam textos da imprensa da altura sobre a conferência / perfomance onde Fernado Ribeiro de Mello, numa banheira, apresentou novas publicações Afrodite.

Duas ilustrações na História Trágico-Marítima


Autor: Escada




Autor: Eurico

História Trágico-Marítima, de Bernardo G. de Brito

(edição de Outubro de 1971)



Colecção Clássicos
2 Volumes
Fixação de texto, glossário e notas de Neves Águas

Comentários de:
Fernando Luso Soares
José Saramago
M. Lúcia Lepecki

Ilustrações de:
Cruzeiro Seixas
Eurico
Carlos Calvet
José Escada

Arranjo gráfico do volume de José Marques de Abreu



Nota de Edição

Para a presente edição da «História Trágico-Marítima» tivemos em conta a 1.ª edição da mesma (1735-1736).

Queremos, contudo, esclarecer que:

1 Ao actualizarmos tanto a ortografia como a acentuação mantivemos, todavia, algumas formas características da época que, na sua grande parte, persistem ainda hoje na linguagem popular;

2 Estabelecemos, contudo, um glossário, no final do 2.º volume, afim de permitir uma tanto quanto possível perfeita apreensão dos termos mais antigos e/ou fora de uso;

3 Mantivemos a pontuação original, que por razões inerentes ao tempo e acto de feitura dos textos se encontra fora das regras actuais de pontuação, considerando que a mesma não afecta o entendimento destes últimos;

4 Sempre que nos pareceu necessário ou se levantaram dúvidas quanto à interpretação, recorremos à confrontação com outras edições ou estudos;

5 As notas, no final do 2.º volume, são uma tentativa de um mais detalhado esclarecimento relativamente à compreensão de alguns passos menos claros do texto.