Saturday, September 23, 2006

De Fora Para Dentro – Alguns apartes

ROGER VAILLAND: “Entre 1904 e 1914, entre os seus vinte e trinta anos, viajara nas férias universitárias por toda a Europa a fim de rematar a educação, segundo o desejo do pai. Voltando certo verão de Londres para em Valência embarcar rumo a Nápoles, demorou-se alguns dias em Portugal. Fizera a si mesmo mil perguntas sobre o declínio desta nação cujo império se alargara a todo o globo. Conheceu escritores que não escreviam para ninguém; homens políticos que governavam para os ingleses; homens de negócios que liquidavam as feitorias do Brasil, e viviam das rendas exíguas nas cidades da província, sem qualquer objectivo. Concluiu que a pior das desgraças era nascer português. Em Lisboa e pela primeira vez na vida travara encontro com um povo que se tinha desinteressado.” (A Lei)


HENRY MILLER: “Diz (o meu amigo Rivas) que os Portugueses são caricatura dos Espanhóis – mas produziram uma bela literatura!” (cartas a Anais Nïn – 4/8/41)


CHARLES BAUDELAIRE: “Diz lá, minha alma, ó minha pobre alma arrefecida, que acharias tu de viver em Lisboa? Lá deve fazer calor, e com isso haverias de regalar-te como qualquer lagarto. A cidade é à beira d´água; diz-se que é construída em mámore e o povo odeia os vegetais a um ponto que tal que arranca todas as árvores. Ora aí tens uma paisagem a teu gosto, uma paisagem feita de luz e mineral com líquido a oferecer-lhes o seu frescor!” (Any where out of the world – O spleen de Paris)


CASANOVA: “- (…) Depois de saber que sois portuguesa, sinto-me reconciliado com a vossa nação. – Porquê, não gostáveis de nós? – Queria-vos mal porque há duzentos anos deixastes morrer o vosso Virgílio na miséria. – Camões! Mas antes de nós fizeram os Gregos o erro de deixar morrer o seu Homero. – É verdade; porém os erros de uns nãos desculpam os dos outros.” (Memórias)


HANS CHRISTIAN ANDERSEN: “O africano de feições grosseiras, lábios espessos e negra carapinha felpuda está sentado nos degraus palácio de mármore da capital de Portugal, e mendiga...É o fiel escravo de Camões; sem ele e as moedas que lhe deitam, teria morrido de fome o seu senhor, o cantor de Os Lusíadas. Mas hoje cobre o túmulo de Camões um sumptuoso monumento.” (Contos)